Folha
de São Paulo, 02 de dezembro de 2007.
(Caderno A2 opinião) .
Antônio
Ermírio de Moraes
Água: merece total respeito
Lamento
ter de voltar
a
um assunto sobre o qual escrevi tantas vezes: o desperdício
de água.
Dados de pesquisa recentemente divulgados dão conta
de que o Brasil desperdiça 45% da água captada
para consumo. O quadro piorou nos últimos anos. Em
2002, a perda era de 40% - o que já era lamentável.
De lá para cá, aumentamos cinco pontos percentuais
("Brasil desperdiça 45% da água", Folha, 17/11/07).
Essa é a média. Há casos calamitosos.
Em Porto Velho, capital de Rondônia, onde apenas 31%
da população recebe água tratada, o desperdício
é de 80%. No Rio de Janeiro, a perda é de 53%.
Dois absurdos.
São Paulo tem uma das médias mais baixas, 31%
mas, ainda assim, é exorbitante. Nossos mananciais
estão secando, e o tratamento está cada vez
mais caro. Não podemos desperdiçar tanta água
nos vazamentos.
Para os padrões internacionais, o nosso desperdício
é escandaloso. No Japão, a perda é de
apenas 4%, e há uma forte campanha para reduzir esse
desperdício a pouco mais do que zero.
É importante que fique clara a noção
de perda. Esta se refere à diferença entre o
que é captado nos mananciais e o que é entregue
ao consumidor. Não estão computadas nesses números
as perdas praticadas pelos consumidores. Estamos falando de
perdas devido à má conservação
da rede de água.
O
desperdício vai muito mais longe quando se consideram
os que varrem as calçadas com esguicho, os que esbanjam
água potável para lavar seus carros e os que
decidem cantar uma ópera, em vários atos, durante
o banho de chuveiro.
Os economistas dizem que o desperdício é grande
porque, no Brasil, a água ainda é muito barata.
Penso que haja um fator de maior importância: a falta
de educação ambiental. A ONU diz que os seres
humanos não precisam de mais de cem litros de água
por dia. A média no Brasil é de 150 litros.
em São Paulo é de 221; no Rio de Janeiro 226;
em Vitória 236. Em bairros nobres da capital de São
Paulo, o consumo ultrapassa os 400 litros por dia para cada
pessoa.
Só há uma razão para isso: falta de educação
dos cidadãos. Como educar leva tempo, nossas escolas
precisam intensificar muito mais a conscientização
das crianças. Não só as escolas, mas
todos os logradouros públicos e privados, as empresas,
as associações, os locais de lazer, os clubes
e vários outros. Seria extremamente útil uma
campanha de televisão permanente para economizar um
bem precioso que já começa a faltar. Juízo
Brasil!
antonio.ermirio@antonioermirio.com.br
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