Folha
de São Paulo, 02 de dezembro de 2007.
(Caderno C 8 cotidiano)
Riachos
de Cajamar recebem despejo de lavanderia
de Jeans
Água
de tratamento de jeans deixa córregos com cheiro forte
e azul;
cidade tem 17 empresas, sendo 11 irregulares.
Legislação
da região fraca em poluição ambiental
favorece empresas; funcionários afirmam fazer tratamento
da água.
___________________
ARTUR RODRIGUES
DO "AGORA"
O azul
intenso dos córregos de Cajamar (a 42 km de SP) chama
a atenção de quem está de passagem pela
cidade. Quem mora no município, porém, já
se acostumou à cor da água - de tom vibrante
e cheiro forte - , resultado da água que sobra da lavagem
de peças jeans com soda cáustica e permaganato
de potássio (que dão o tom desgastado ao tecido).
O líquido, que deveria ser tratado, é despejado
nos riachos pelas dezenas de lavanderias de Cajamar e cidades
vizinhas.
Quem vive em torno dos dejetos das chamadas "beneficiadoras"
do jeans são moradores de bairros periféricos.
As crianças do bairro Polvilho, em Cajamar, já
nascem sabendo que ali, como em desenho animado, o córrego
é colorido. "Muitas vezes, as crianças
pulam aí para pegar a bola", conta o comerciante
Josias Oliveira, 35, que já fez algumas reclamações
à prefeitura sobre o despejo das substâncias
tóxicas.
Mas ele parece ser exceção entre os moradores,
já que a água, com odor de cloro, não
apresenta cheiro de esgoto.
A empresa responsável pela água azul do córrego
na rua Campos de Jordão é a Confecções
Shauma. A lavanderia, próxima de uma nascente, usa
a água no processo produtivo e em um pequeno lago de
águas limpas, com patos e peixes.
Apesar de os funcionários da empresa afirmarem que
há uma estação de tratamento de água,
o líquido azul apresenta cheiro forte e causa ardência
nos olhos de vizinhos.
A prefeiyura diz que a confecção é uma
das poucas empresas do ramo regularizadas na cidade - há
outras 17 lavanderias em Cajamar, sendo 11 informais, segundo
a administração municipal.
Segundo Paulo Sérgio Salvi, coordenador técnico
da disciplina beneficiamento de jeans do senai, sem o tratamento
da água, exigido pela lei, o serviço prestado
pelas empresas custaria a metade do preço. Ele diz
ainda que a legislação menos rigorosa em poluição
ambiental dessas cidades acaba atraindo lavanderias clandestinas.
|